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Imagem: Annick Ramp |
Em um cenário global onde jovens do sexo masculino figuram como os principais autores de crimes violentos, uma pequena vila na Suíça surge com uma proposta inovadora: a reabilitação em vez da punição. O Centro Correcional de Uitikon (MZU), localizado em um vilarejo suíço, abriga jovens com histórico de crimes, muitos deles violentos, e oferece um programa intensivo de ressocialização. A ideia central é que, com o apoio adequado, indivíduos marcados por um passado problemático podem ser transformados em cidadãos responsáveis.
Um "Campo de Treinamento" para Adultos Responsáveis
Longe de ser uma prisão tradicional, o MZU se assemelha a um "campo de treinamento" onde 115 funcionários se dedicam a orientar os jovens infratores para longe do caminho do crime. Através de educação, terapia e treinamento profissional, busca-se suprir as lacunas de desenvolvimento que deveriam ter ocorrido durante a infância e a adolescência. Os internos aprendem a seguir regras, assumir responsabilidades e controlar seus impulsos.
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Foto:Annick Ramp/NZZ |
O centro oferece diversas oficinas de treinamento vocacional, como carpintaria, metalurgia e pintura, permitindo que os jovens adquiram habilidades para o futuro. Além disso, a terapia individual e em grupo é um componente essencial do programa, incentivando os internos a confrontar seus crimes e a entender os fatores que os levaram a cometer tais atos.
Custos Elevados, Benefícios a Longo Prazo?
A abordagem do MZU tem um custo elevado: cada interno custa 871 francos suíços (aproximadamente 990 dólares) por dia, em comparação com os 331 francos da prisão de Pöschwies. No entanto, os defensores do programa argumentam que o investimento se justifica a longo prazo. A reabilitação, embora mais cara inicialmente, pode evitar que os jovens reincidam no crime, o que geraria custos ainda maiores para a sociedade.
Desafios e Perspectivas
Apesar dos esforços, o caminho da reabilitação é cheio de desafios. Muitos internos apresentam transtornos como TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) e histórico de abuso de substâncias, o que dificulta o processo. Além disso, a proximidade da liberdade pode trazer novas tentações e testar a capacidade dos jovens de resistir ao impulso de transgredir as regras.
Apesar das dificuldades, o MZU se mantém firme em sua missão de oferecer uma segunda chance aos jovens infratores. Acreditando no potencial de transformação de cada indivíduo, a equipe do centro busca incansavelmente reintegrá-los à sociedade, oferecendo-lhes as ferramentas necessárias para construir um futuro longe do crime.
O Caso de Ali Nuur
Ali Nuur, um dos internos do MZU, personifica os desafios enfrentados por muitos jovens infratores. Imigrante de um país africano, Nuur teve uma infância conturbada, marcada por problemas na escola e envolvimento em pequenos crimes. Após cometer dois roubos à mão armada, foi encaminhado ao MZU, onde busca reconstruir sua vida.
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Ali Noor foi condenado por dois roubos. |
Apesar de ter aprendido a dizer o que as pessoas querem ouvir, Nuur ainda luta contra seus impulsos e a sensação de ser tratado injustamente. No entanto, o programa do MZU oferece a ele a oportunidade de aprender um ofício, receber terapia e, acima de tudo, acreditar em um futuro melhor.
Um Modelo a Ser Seguido?
O MZU representa uma abordagem inovadora para lidar com a criminalidade juvenil, focada na reabilitação em vez da punição. Embora os custos sejam elevados e os desafios numerosos, a experiência suíça demonstra que é possível transformar jovens infratores em cidadãos responsáveis, oferecendo-lhes uma segunda chance e um futuro longe do crime. A questão que fica é: será que esse modelo pode ser replicado em outros países, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e segura?
Fonte: Clalüna, Flurin; Klingbacher, Barbara; Ramp, Annick. "Switzerland's village of young male criminals." NZZ, 12 de março de 2025.
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