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Especialistas alertam que a coleta de dados biométricos pode expor os usuários a graves consequências, enquanto muitos buscam lucro imediato sem compreender os perigos envolvidos.
No coração de São Paulo, uma nova tendência está atraindo cada vez mais pessoas, dispostas a escanear suas íris em troca de criptomoedas. Essa prática, promovida por empresas como a Tools for Humanity, levanta sérias preocupações sobre a segurança e a privacidade dos dados dos participantes. Apesar de muitos estarem motivados pelo incentivo financeiro, a maioria desconhece os riscos associados à entrega de informações biométricas tão sensíveis.
Os relatos de pessoas que participaram do processo são alarmantes. Muitos não têm claro para que suas íris estão sendo escaneadas, mas se sentem atraídos pela promessa de ganhos financeiros. Um motoboy, por exemplo, admitiu que se inscreveu apenas porque um amigo lhe disse que poderia receber cerca de R$ 400 por sua participação. Essa falta de informação é um padrão comum entre os indivíduos que buscam esse tipo de serviço. Segundo especialistas, essa prática pode ser considerada uma exploração de populações vulneráveis, onde as dificuldades financeiras levam as pessoas a aceitarem riscos que não compreendem totalmente.
A coleta de dados biométricos, como a íris, é uma questão complexa que envolve preocupações sobre privacidade e segurança. Embora o escaneamento da íris seja promovido como uma forma de garantir que um usuário é humano e não um robô, a realidade é que esses dados únicos podem ser usados de maneiras que os participantes não conseguem prever. A gerente adjunta da Assessoria Jurídica do NIC.br, Karen Borges, alerta que a combinação de dados biométricos com algoritmos avançados pode abrir a porta para abusos, fraudes e violações à privacidade.
Ainda mais preocupante é o fato de que, mesmo com o consentimento para o escaneamento, muitos usuários não estão cientes das implicações de fornecer esses dados. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil exige um consentimento claro e informado, mas a compensação financeira associada ao escaneamento pode distorcer essa percepção, levando as pessoas a se sentirem compelidas a participar sem considerar as consequências.
A Tools for Humanity, responsável pelo projeto, afirma que a coleta de dados é realizada de forma segura e que as informações são criptografadas. No entanto, especialistas como Nathan Paschoalini, da Data Privacy Brasil, ressaltam que a segurança e a anonimização dos dados não são garantidas. A preocupação é que, em caso de vazamento, dados tão sensíveis possam ser utilizados para discriminação ou outras situações prejudiciais.
A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) já instaurou um processo de fiscalização sobre o uso de dados biométricos nesse contexto, indicando que a situação está sob escrutínio. A fiscalização é um passo importante, mas a conscientização do público em geral sobre os riscos envolvidos na coleta de dados biométricos é fundamental para garantir que os direitos dos cidadãos sejam respeitados.
Em um mundo cada vez mais digitalizado, a busca por soluções que garantam a identidade e a autenticidade é natural. No entanto, é crucial que essa busca não venha à custa da privacidade e da segurança dos indivíduos. As promessas de lucro rápido podem ofuscar a realidade dos riscos, e cabe aos cidadãos serem proativos em entender as implicações de suas escolhas.
Fonte: Agência Brasil – "Pessoas desconhecem riscos ao escanear a íris, alertam especialistas" (2025).
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